Deus te ama (1), mas, você é pecador (2). Por isso, Jesus Cristo te salvou (3) e enviou o Espírito Santo sobre você (4), para te dar o dom da fé (5). Então, se converta (6) e faça parte da Igreja (7).
Simples, né? Sim, mas, não tanto. Para entendermos um pouco mais profundamente sobre o que cada passo quer dizer, vamos precisar penetrar no mistério da nossa fé. Sim, "nossa" fé. Não cremos sozinhos. Cremos com a fé da Igreja. E qual é a fé da Igreja?
Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu na Virghem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos; creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna.
9.1. O insondável mistério do amor de Deus que criou
Deus é amor. O próprio Deus é a fonte inesgotável de amor, uma bondade que transcende toda compreensão humana. Esse amor é a essência do Seu ser, pois Ele não apenas manifesta amor, mas é amor em sua plenitude. Essa verdade fundamental é confirmada na Primeira Carta de João (1 João 4, 8), que nos recorda que "quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor". A compreensão desse amor divino é uma jornada que nos conduz a um relacionamento profundo e íntimo com o Criador.
Ao contemplarmos o universo e a maravilha da criação, percebemos claramente o amor de Deus em ação. O ato da criação é a demonstração mais sublime de Seu amor generoso e criativo. O Livro do Gênesis nos apresenta essa narrativa majestosa, onde Deus, em Sua sabedoria e poder, dá origem ao cosmos e a toda a vida que o habita. Somos criados por amor, para o amor e em amor. Cada detalhe minucioso da natureza revela a delicadeza e a beleza desse amor incondicional que nos abraça desde o início dos tempos. E ao criar a humanidade à Sua imagem, Deus concede-nos a capacidade de compartilhar Seu amor com nossos irmãos e irmãs, tornando-nos colaboradores em Sua obra divina.
9.2. O pecado
O amor de Deus é eterno, e mesmo diante das escolhas humanas que conduziram à queda e ao pecado, Seu amor não vacila. O pecado é uma transgressão ou desobediência à vontade de Deus, expressa por meio de suas leis e mandamentos. Deus criou os seres humanos com liberdade de escolha, e essa liberdade inclui a capacidade de agir contra a vontade divina. O pecado não apenas afeta o relacionamento do indivíduo com Deus, mas também pode causar danos às outras pessoas e à comunidade em geral. A liberdade de escolha torna os seres humanos responsáveis por suas ações, e o pecado é visto como uma escolha consciente que quebra a harmonia com Deus e com o próximo.
Um conceito importante para nós é o entendimento do pecado original, baseado em Gênesis 3. A humanidade herdou uma condição de pecado desde o início dos tempos, quando Adão e Eva desobedeceram a Deus, comendo o fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal. Esse ato de desobediência resultou em uma ruptura no relacionamento entre a humanidade e Deus, uma mancha na natureza humana e uma propensão inata para o pecado. Assim, todos os seres humanos nascem com essa herança de pecado original, precisando de redenção e purificação.
A necessidade de um salvador é uma consequência direta do pecado original e da natureza pecaminosa da humanidade. Por conta do pecado, a humanidade não poderia restaurar por si só sua relação com Deus. De fato, a consequência do pecado é a morte. Portanto, foi necessário um salvador, Jesus Cristo, que assumiu o peso do pecado original. O pecado trouxe ruptura em nossa relação com Deus, mas Ele, em Sua infinita misericórdia, não nos abandonou à nossa própria sorte. Pelo contrário, prometeu enviar um Redentor, um Salvador que nos libertaria do pecado e nos reconciliaria com Ele.
9.3. Jesus Cristo
A promessa do Salvador se cumpre em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem. A encarnação de Cristo é o ápice do amor de Deus em nossa história, pois Ele se tornou um de nós, assumindo a nossa humanidade. Mas, antes de pentrarmos neste mistério, precisamos nos aprofundar um pouco noutro mistério intimamente conectado: a Santíssima Trindade. Nós cremos em um só Deus que é ao mesmo tempo uno e trino. É um só Deus, mas são três a pessoas divinas. Deus é Pai e Filho e Espírito Santo. Santo Atanásio explica isto em sua versão da profissão de fé, onde afirma:
A fé católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância. Porque uma so é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. [...] Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E contudo não são três deuses, mas um só Deus. [...] O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho. Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, e não três Espíritos Santos. E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são coeternas e iguais entre si.
Ainda difícil de entender? Preste atenção na imagem abaixo:
É deste modo que cremos num Deus uno e trino: a Santíssima Trindade. As pessoas não se confundem, não se misturam, mas não são três deuses e sim um único Deus. Ainda antes do tempo ser tempo, o Pai gerou o Filho e do Pai e do Filho veio o Espírito Santo, não num ato de criação e nem de geração. Deus não é criado, existe assim, Uno e Trino desde a eternidade. O Pai é o criador. Mas, quando o Pai cria, o Filho e o Espírito criam com Ele. Ainda assim, o Pai é o criador. Do mesmo modo acontece com o Filho que é o Salvador e com o Espírito Santo que é o Santificador.
A Bíblia contém várias referências à Trindade. Por exemplo, em Mateus 3, 16-17, durante o batismo de Jesus, a voz do Pai é ouvida do céu, o Filho é visto sendo batizado e o Espírito Santo desce como uma pomba. Outro exemplo é o Grande Mandamento em Mateus 28, 19, onde Jesus instrui seus discípulos a batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Pois bem, como o pecado entrou no mundo e recebemos a promessa de um Salvador, essa se cumpriu em Jesus Cristo. Ele é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, a pessoa do Filho, que assumiu a nossa natureza humana, pois "o que não é assumido, não pode ser remido" (São Gregório Nazianzeno). A culpa do pecado era tão grande e ofendeu ao Deus Eterno que somente o próprio Deus poderia reconciliar a humanidade com Ele.
O Filho, então, entra na história humana, por ação do Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria e se faz homem. Jesus se faz homem em tudo como nós, menos no pecado. Mas, mesmo não tendo pecado, Ele assume a consequência do pecado: a morte. Jesus Cristo é, de fato, ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nosso Redentor e Salvador. Sobre o fato de ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem, novamente é Santo Atanásio que explica:
A pureza da nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, gerado na substância do Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da substância da sua Mãe. Deus perfeito e homem perfeito, com alma racional e carne humana. [...] E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo. É um, não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a humanidade.
A Salvação em Jesus Cristo é o núcleo da fé cristã. A salvação está em todos os momentos da vida de Jesus, incluindo Sua pregação, paixão, morte, ressurreição e ascensão. Como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Jesus encarnou para redimir a humanidade, enfrentando a condição de pecado herdada do pecado original.
A pregação de Jesus, retratada nos Evangelhos sinóticos, testemunha Sua mensagem de amor, arrependimento e perdão, anunciando o Reino de Deus e a necessidade de se reconciliar com o Pai. Sua pregação revelou a natureza graciosa de Deus, convidando os pecadores a abandonar o pecado e seguir Seus ensinamentos.
Jesus é o Messias, o cumprimento das profecias do Antigo Testamento que apontavam para a vinda de um Salvador. Na cultura judaica, a expectativa messiânica era a esperança de um líder ungido por Deus que libertaria o povo de Israel e estabeleceria o Reino de Deus. Acredita-se que Jesus é o cumprimento dessas profecias, e Seus sinais e obras confirmam Sua identidade como o Messias.
Os Evangelhos do Novo Testamento retratam Jesus realizando vários sinais e milagres como evidência de Sua divindade e missão messiânica. Esses sinais incluem a cura de enfermidades, a ressurreição dos mortos, a multiplicação dos pães, a caminhada sobre as águas e a libertação de pessoas possuídas por espíritos malignos. Cada um desses milagres revelava o poder e a autoridade divina de Jesus, confirmando que Ele era mais do que um simples profeta ou mestre, mas o próprio Filho de Deus encarnado.
Além dos sinais e milagres, Jesus também ensinou sobre Seu papel como o Messias por meio de parábolas e discursos. Suas palavras enfatizavam a chegada do Reino de Deus, o arrependimento dos pecados, a prática do amor e da justiça, e o convite para seguir Seus ensinamentos. Sua autoridade para perdoar pecados e Sua relação única com Deus, o Pai, foram elementos centrais de Sua pregação.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, conforme registrado nos Evangelhos, também é considerada um evento messiânico. O povo o recebeu com aclamações messiânicas, estendendo ramos de palmeiras e o chamando de "Hosana", o que refletia a expectativa de que Ele seria o libertador prometido.
A paixão de Cristo, a partir da Última Ceia até a crucificação, é um momento central na Salvação. Na Última Ceia, Ele instituiu a Eucaristia, fornecendo Seu corpo e sangue como alimento espiritual. Na agonia no Jardim do Getsêmani, Jesus aceitou o plano do Pai, submetendo-se à Sua vontade para a redenção da humanidade. Sua morte na cruz é vista como um ato de expiação vicária, onde Ele carregou os pecados da humanidade e restaurou a relação com Deus, sendo o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Isto quer dizer que o próprio Jesus assumiu para si a morte a qual toda pessoa humana estava condenada e pagou a pena dos nossos pecados, reconciliando-nos com o Pai.
Com a ressurreição de Jesus, através de Sua vitória sobre a morte, Ele venceu o poder do pecado e abriu o caminho para uma vida nova em comunhão com Deus. A ressurreição não apenas confirmou Sua autoridade sobre a vida e a morte, mas também selou a vitória sobre o pecado e abriu a promessa de vida eterna para aqueles que creem Nele. Por fim, com a ascensão de Cristo, Ele retornou à glória do Pai, inaugurando Sua presença contínua através do Espírito Santo. Nesse evento, Ele garantiu um lugar no céu para a humanidade, preparando um lugar para Seus seguidores e intercedendo por eles perante o Pai.
Em síntese, a Salvação em Jesus Cristo é um ato redentor abrangente, que compreende Sua pregação do Reino, suas curas e sinais, a paixão e morte sacrificial como expiação pelos pecados, a ressurreição que concede vida nova e a ascensão que garante um lugar no céu. Jesus, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, cumpre o propósito redentor de Deus para a humanidade caída e agora resgatada por amor.
9.4. O Espírito Santo
Já tendo explicado a Santíssima Trindade, precisamos enfatizar agora a figura do Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade. É o Espírito Santo que foi enviado sobre os apóstolos após a ascensção de Jesus, no dia de Pentecostes. O Espírito Santo age juntamente com o Pai e o Filho, desde o princípio até à consumação do desígnio da nossa salvação. Mas é nestes últimos tempos, inaugurados com a Encarnação redentora do Filho, que Ele é revelado e dado, reconhecido e acolhido como Pessoa.
O Espírito Santo: inspirou as Escrituras e a Tradição; assiste o Magistério da Igreja; nos põe em comunhão com Cristo na liturgia sacramental, através de suas palavras e símbolos; interce por nós em oração; edifica a Igreja nos carismas e ministérios; manifesta sua santidade e continua a obra da salvação no testemunho dos santos e de todas as pessoas que buscam ser fiéis a Deus.
O Espírito Santo é uma Pessoa divina da Santíssima Trindade e não pode ser reduzido a uma mera representação simbólica, como a pomba que apareceu no batismo de Jesus. Ao longo da história da salvação, o Espírito Santo assumiu várias formas para revelar Sua presença e atuação na vida dos fiéis. No Antigo Testamento, o Espírito era frequentemente associado ao sopro criador de Deus, manifestando-se na criação do universo e capacitando líderes e profetas, como Moisés e Elias. No Novo Testamento, o Espírito desceu sobre Jesus em forma de pomba no batismo, mas também se manifestou como vento e línguas de fogo no Pentecostes, capacitando os apóstolos a proclamarem o Evangelho em várias línguas. Além disso, o Espírito age na vida dos fiéis de maneira invisível e pessoal, concedendo dons espirituais, inspirando a oração e guiando-os na busca da santidade e da vida cristã. Sua presença diversificada e atuação na história da salvação revelam a riqueza de Sua pessoa divina e a universalidade de Sua ação no mundo.
9.5. A fé
Se, até agora, tudo foi história, é preciso partir desta história de salvação para um ato: a fé. Ter fé é um ato pessoal de confiança e adesão a Deus. A fé é uma resposta livre e consciente ao chamado divino, em que o indivíduo reconhece Deus como o Criador e Salvador e aceita Sua revelação através das Escrituras e da tradição da Igreja. Essa crença é acompanhada por uma busca contínua de intimidade com Deus e um desejo de viver de acordo com Sua vontade. A fé não é apenas um conjunto de crenças intelectuais, mas também envolve uma resposta afetiva e volitiva.
A fé é essencial para a vida cristã e a salvação. É através da fé que os fiéis são justificados e recebem a graça de Deus. A fé também é um chamado à missão e ao serviço ao próximo, inspirando a ação caritativa e a busca pela justiça e paz no mundo. De fato, a fé deve traduzir-se em obras: "Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras." (Tiago 2, 17-18).
9.6. A conversão
A fé, porém, nos remexe e precisa nos levar a conversão. A conversão é um processo contínuo e vital para a vida cristã. Ela envolve uma mudança profunda de coração e mente, uma transformação interior que leva o indivíduo a se afastar do pecado e a se voltar para Deus em arrependimento e fé. A conversão não se limita a um evento pontual, mas é um caminho de crescimento espiritual e busca por santidade ao longo da vida. Ela é um ato de graça divina, onde o Espírito Santo age no coração da pessoa, convidando-a a seguir Jesus e a acolher o Evangelho como um estilo de vida. A conversão inclui uma resposta pessoal à graça de Deus, uma decisão livre e consciente de abraçar a fé e se comprometer com o seguimento de Cristo.
A conversão implica uma reconciliação com Deus e com os irmãos, bem como um desejo de viver de acordo com os valores do Evangelho. Além disso, a conversão é um chamado a crescer na fé, aprofundar a oração e a comunhão com Deus, e a buscar uma vida de virtude e caridade. É um processo que pode ser desafiador, mas também recompensador, pois conduz a pessoa a uma maior conformidade com Cristo e a uma vida de graça e esperança em Deus.
9.7. A Igreja
Por fim, vem a vida na Igreja. Já explicamos o sentido da Igreja. Mas, agora, convém destacarmos que a Igreja é o lugar privilegiado da vida da fé. É na Igreja que os fiéis encontram-se com Jesus Cristo de maneira especial através dos sacramentos, da Palavra de Deus e da oração comunitária. É na Igreja, ainda, que os cristãos são nutridos e fortalecidos na sua caminhada espiritual, recebendo a Eucaristia, que é o próprio Corpo e Sangue de Cristo, e encontrando a orientação e a inspiração da Palavra de Deus proclamada nas liturgias. Além disso, a Igreja é uma comunidade de fé, onde os fiéis se apoiam e se encorajam mutuamente na busca de uma vida cristã autêntica. A vivência da fé em comunidade é essencial, pois permite que os cristãos se unam em oração, compartilhem suas experiências de fé, testemunhem o amor de Cristo através do serviço ao próximo e participem da missão evangelizadora da Igreja.